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\n(la suite en portugais)
\nDuas atrizes ja est\u00e3o sobre o palco. Vemos muitas malas, em diversos formatos, ao redor das atrizes Anne-\u00c9lodie Sorlin e \u00c9milie Caen. Elas v\u00e3o nos contar uma hist\u00f3ria, a hist\u00f3ria de um menino afeg\u00e3o (Farid) que deve fugir de seu pa\u00eds devido \u00e0 guerra que assola sua regi\u00e3o.
\nO texto tem portanto como pano de fundo a crise dos refugiados na Europa, onde vemos a fric\u00e7\u00e3o do encontro entre diferentes\u2026 onde a quest\u00e3o do territ\u00f3rio (\u00ab\u00a0esse lugar \u00e9 meu\u00a0\u00bb, \u00ab\u00a0esse n\u00e3o \u00e9 teu lugar\u00a0\u00bb) coloca em xeque nossa capacidade de se p\u00f4r no lugar do outro.
\nA pe\u00e7a mostra a saga de Farid e de sua irm\u00e3, esses que t\u00eam como ponto de partida o Afeganist\u00e3o e como ponto de chegada a Inglaterra. No entanto, Farid e sua irm\u00e3 se perdem ao longo da viagem, o que obriga o menino a tomar as decis\u00f5es e a enfrentar seus medos sozinho. Durante essa viagem\/fuga, ele esbarra com todo um universo que se difere de seu lugar de origem. Ou seja, durante essa viagem, ele encontra um outro modo de organiza\u00e7\u00e3o, onde as mulheres sem o v\u00e9u andam sozinhas na rua, onde a escritura lingu\u00edstica \u00e9 totalmente diferente da sua, onde o funcionamento da vida urbana lhe \u00e9 ao mesmo tempo estranha e familiar.
\nEssas descobertas n\u00e3o denotam juizo de valor (se \u00e9 melhor o modo de vida ocidental ou oriental, ou vice-versa), mas somente indicam esse sentimento de n\u00e3o-pertecimento a um mundo que lhe \u00e9 completamente hostil no in\u00edcio. Um sentimento de estranheza suscitado por essas situa\u00e7oes de perigo e de tens\u00e3o que lhe obrigam a crescer, que marcam em definitivo sua passagem da inf\u00e2ncia a esse outro momento desconhecido (o qual \u00e9 anterior \u00e0 pr\u00e9-adolesc\u00eancia). Farid portanto se encontra nessa condi\u00e7\u00e3o indefin\u00edvel de passagem de momento de vida, em meio a uma situa\u00e7\u00e3o igualmente de passagem (de tr\u00e2nsito de um lugar \u00e0 outro). Um momento de questionamento de sua identidade (j\u00e1 que a possess\u00e3o sobre determinado territ\u00f3rio contribui \u00e0 contru\u00e7\u00e3o de nossa identidade, de nossas refer\u00eancias)\u00a0; um momento em que ele tenta n\u00e3o esquecer de si mesmo.
\nAssim, h\u00e1 todo um universo sens\u00edvel (de uma profundidade singela) abordado por In\u00eas Barahona e Miguel Fragata. No entanto, o que se v\u00ea em cena \u00e9 um jogo descompassado entre as atrizes \u00c9milie Caen e Anne-\u00c9lodie Sorlin. Enquanto esta consegue encontrar o tom da sua fala e a energia do seu jogo em meio a tantos objetos e refer\u00eancias postos sobre o palco, a primeira demonstra sua dificuldade em se sentir \u00e0 vontade na proposta.
\nAl\u00e9m disso, como se disse anteriormente, h\u00e1 tantos elementos no palco (as in\u00fameras malas e os objetos que se encontram no interior delas, o mapa, o tapete, as mochilas, etc.) que talvez tudo isso torne a contracena\u00e7\u00e3o ref\u00e9m do dispositivo cenogr\u00e1fico. O que \u00e9 uma pena, porque algumas vezes o menos \u00e9 mais\u2026 e porque se trata de uma proposta onde o clima da \u00ab\u00a0saudade\u00a0\u00bb melanc\u00f3lica n\u00e3o combina ao esfor\u00e7o de fazer rir.<\/p>\n